Adeus! —Um início?
Após treze gotas, nossa série chega ao fim. Nosso objetivo, que era de prover, a quem queira, as ferramentas suficientes para identificar e combater ideias e ataques fascistas, parece ter sido alcançado, pelo menos em alguma parte. Porém, relendo as publicações, noto que iniciaram frequentes, com intervalo de poucos dias, mas foram se espaçando mais. Quero assegurar-lhes de que isso não foi por falta de assunto ou interesse, mas porque escrever sobre fascismo me esgota, seca.
Refletindo, me dou conta da maravilha que é viver estas contradições. A diversidade, antes e ante as certezas. Na ciência, a lei da entropia nos garante que o destino final é o caos e o gélido negrume de um universo indiferenciado. Enquanto isso, a vida é díspar, improvável, teimosa negação da direção e sentido de tudo o mais que existe no universo. A vida não vai em direção à desordem inexorável, mas à formação de ilhas de organização, à sistematização, à diversificação e à criatividade adaptativa. E só se desorganiza quando já se foi, na morte, após deixar sua pequena semente de eternidade, impressa em DNA/RNA, na sucessão das gerações. Seres vivos são, então, pequenas ilhas de ordem, de delimitação e continência, mediadores de significação, como nos diz a teoria da informação.
Diversidade versus indiferenciação. A luta inglória da codificação de significados, contra a maré inexorável da entropia. A contradição dos extremos está no fato de que, quanto maior a complexidade, maior a informação contida, mas, no limite, quando a organização cresce em complexidade, ao ponto de tornarem-se múltiplas e imprevisíveis as interpretações possíveis, a mensagem torna-se ininteligível. É como se diz na teoria da informação: quanto maior a informação, maior a desordem, maior a entropia. Então, no extremo, a mais rica mensagem possível não nos diz nada, porque é incompreensível. Mas o contrasenso em que se degladiam entropia e significação se resolve numa espécie de caminho do meio. A mensagem não deve ser complexa ao ponto de tornar-se ininteligível, nem redundante ao ponto de nada carrear.
Mas, qual o caminho do meio, com relação ao fascismo eterno?
Sempre houve e sempre haverá todo tipo de reacionário—de direita, de esquerda; jovens ou velhos; homens ou mulheres—daqueles que se abrigam na melancolia e na saudade de um passado que não houve e anseiam pela volta ao que nunca foi. A diversidade também os inclui. Então nos resta ficar atentos e cultivar os méritos da variedade, disseminar a cultura, as artes, a reflexão sobre a história, o ativismo político, ou seja, tudo que os reacionários odeiam, porque os impede de fazer prevalecer seus mundos bidimensionais. Da minha parte, se tiver como mais contribuir e a situação pedir, pingo outras gotas. Por ora, obrigado a quem me acompanhou até aqui. Continuaremos juntos, porque a democracia é uma construção de todo e cada dia e não combina com o Brasil anunciado pela Havan.
Isso é um fim? Talvez não. Assim como o fascismo é eterno, permanente deve ser a luta contra ele. Na vida, como na liteatura, o bem vence?
Veremos.
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